Produced by Vasco Salgado
TYP. ARTISTICA27—Rua do Visconde de Bruges—29
+Faustino Fonseca J.^or+
(Primeiros versos)
Angra do Heroismo
1892
Os versos na mocidade
Todos fazem, e a razão
É serem necessidade
Aos risos do coração.
O futuro côr de roza,
O mundo cheio de encantos;
A nossa alma jubilosa
Não chorou amargos prantos.
Desde o ar que se respira,
Ao ceo da côr de saphira,
Tudo ri e diz—Amar!
E contemplando a belleza,
O sorrir da natureza,
Sabemos todos cantar.
O busto esculptural e primoroso,
O braço torneado, a linda mão,
O rosto avelludado e tão mimozo
Que da roza assemelha-se ao botão.
O cabello d'um negro tão lustroso,
A boquinha vermelha, ó perfeição!
O olhar d'um fulgôr tão radioso,
Que belleza e ternura d'expressão!
Ao vêl-a devaneio, fico louco,
Creio que o meu amôr todo inda é pouco
Lembrei-me, e se deixasse de a adorar?
Pode deixar d'amar-se os astros lindos,
Do ceo e terra os dons os bens infindos,
A luz doce e tão pura do luar?
Angra do Heroismo,1890
Gigante irrequieto, immenso mar,
Inspira-me tão funda nostalgia
O teu sonoro e doce murmurar!
Quando ao sol posto a areia luzidia
Tu vens traquillamente rebeijar
N'alma despertas maga poesia.
O teu esverdeado transparente
Fala-nos meigamente d'esperança
A ondular poetico, dolente,
Beijado pelas auras da bonança;
Parece-me o brincar puro, innocente,
Inofensivo e meigo da creança!
* * * * *
Mas quando agitas o teu seio immenso
No voltear das vagas alterosas
Rugindo com fragor enorme, intenso,
Já não tem expressões harmoniosas
Teu palpitar e n'essa hora eu penso
Em coisas bem sinistras, pavorosas.
Ó monstro, no teu seio tens sumido
Victimas aos milhões, causas terror,
Tens navios, cidades engulido.
Será um côro de vingança e dôr
Das victimas, ó mar, o teu rugido,
Ou do remorso o pávido clamor?
Angra do Heroismo1890
Aos Revolucionarios do Porto
Foi ha um anno já! Leaes, ardentes
Filhos do nosso querido Portugal,
Viva, viva a Republica! Valentes,
Bradaram em hosana triumphal,
Ao som da Portugueza revoltados,
Hastearam ao sol nosso pendão,
E pelo Justo Ideal, rudes soldados,
Luctaram sempre até mo